Comenta-se... e por dentro se corrompe.
domingo, outubro 05, 2014Comenta-se lá fora que ele agia de forma egoísta. Mal sabem os outros que tudo que ele tinha era dúvida. Dúvida do que podia fazer para mudar o que lhe incomodava e para permanecer confortável em sua casa e em sua vida, mesmo não sendo o padrão daquilo que seus semelhantes mais desejavam ou que achavam que era pertinente desejar. Estava exausto ao se sentir mais uma peça de xadrez presa num tabuleiro - o cenário que deveria ser de seu total controle estava aos poucos se transformado em manipulações inteligentes nas mãos dos que enxergam horizontes maiores que os seus. Estava cansado de todos pregarem algo que, na prática, nunca era feito e mais cansado ficava quando essas mesmas pessoas lhe opinavam invadindo suas decisões. Conturbava-se então, fortemente, ao ser cobrado e obrigado a tomar uma dessas decisões agora, quando queria apenas dormir e acordar em outro planeta.
O momento é agora, dizia a senhora de idade que de vida sofrida sabia o que talvez daria certo e o que talvez jamais daria. Ele não queria uma vida de retalhos como a dela, então lutava até a última gota de suor para que seu social, cultural e emocional permanecessem intactos. Afinal, para garantir seus sonhos, esses pequenos detalhes construiriam a perfeita "base" para que então pudesse se relacionar perfeitamente com a sociedade, sendo um bom amigo, um bom companheiro, um bom marido, um bom pai. A senhora não o contou que existem pessoas que passam pelo que ele passa e que é possível encontrá-las e, por conseguinte, chamá-las de semelhante. Pois para elas não importará o sacrifício, mas sim a vontade; não importará milhões de palavras inteiras, mas sim algumas pela metade; não importará quem ele tentou ser de mentira, mas sim ele de verdade.
Em meio a turbilhões de desânimo, angústia, glórias e sorrisos, parava muitas vezes e, imóvel, não sabia quem era, o que queria ou o que fazer com aquela fração de segundo de vida. Mesmo sem se mexer, o tempo não parava, corria em suas veias e pulsava em seu coração, transbordando em salivas o grito exposto de desespero e indignação. Pobre coitado. Além de si mesmo, tinha que cuidar dos outros e, se não o fizesse, continuaria se cobrando. Por que ele não poderia desencanar, como fizeram alguns de seus amigos e seu pai? Por que ele não poderia desafrouxar o nó de sua garganta e vomitar palavras sinceras para qualquer um que passasse e pudesse ouvir? E por que não para as pessoas que tinham que ouvir? Seu desabafo era silencioso, em forma de palavras pela metade e em canções nunca registradas.
Comenta-se lá dentro que caía no mais profundo abismo ao ver sua vida aos poucos despedaçar e ter que se preocupar com coisa demais.
E o que ele só queria mesmo era um pouquinho de paz.
M.
*Fonte da imagem: Pinterest.
9 comentários
Eu me identifiquei bastante com esse texto... se sentir perdido, ter que tomar decisões rápidas, seguir um caminho errado tentando fazer com que de uma hora para a outra vire o certo!
ResponderExcluirhttp://senhoritait.blogspot.com.br/
É bom quando a gente se identifica, né? Espero que tenha gostado =)
ExcluirA dúvida é uma auto-dívida anti-dádiva.
ResponderExcluirGK
É como se sentir, em um mundo que já não lhe cabe mais viver, como se tudo que acontecesse fosse por pressão... Gostei bastante do texto <3
ResponderExcluirSeguindo aqui!
http://nuvensdedoces.blogspot.com.br/
É exatamente isso, Mell! =]
ExcluirAdorei o texto ♥ Você escreve muito bem!! Me identifiquei.
ResponderExcluirMil beijos, www.nossomosmoda.com
Obrigada, Viick :)
ExcluirBelíssimo texto.
ResponderExcluirBeijos,
http://thestyleofhislove.blogspot.com.br/
Muitíssimo obrigada!
ExcluirEspero que tenham gostado do Post! Retribuirei com muito carinho <3
Se tiverem sugestões fiquem à vontade!
Beijos!:*