Amargura de Vida

sexta-feira, agosto 02, 2013



Andando apenas por andar, ela buscava sentir o vento gelado e selvagem em seu rosto e a calmaria em sua mente. Também queria muito escutar a música do dia através de cada passo progredido, de cada olhar trocado, de cada sorriso espontâneo e de cada canto de pássaro - embora fosse difícil naquela frieza de dia, naquela amargura de vida. Continuou seu rumo.

Ela não sabia muito bem porque tudo aquilo acontecia. Também passou a duvidar se tudo o que lembrava era verdade ou se ela apenas acordara com uma memória que lhe fora dada para um teste, como se a vida fosse um reality show e ela fosse a protagonista. Muitas coisas passaram por sua cabeça. Pensou então em usar o fone de ouvido no ultimo volume e seguir sem atenção, já que os olhares trocados eram vazios, os passos não tinham um destino certo, os sorrisos não lhe significavam muita coisa e os pássaros aguardavam em seus ninhos por um pouco mais de luz.

Parou por um momento. Sentiu o arrepio, um estalo lhe ocorreu e pensou: "O que estou fazendo?". Ela encontrava-se em frente a uma loja de livros usados, velhos e desconhecidos, como recheio de lembranças utópicas encadernados por carcaças de corações solitários. Sentou-se por um instante no banco em frente à loja e passou a admirar a vitrine. Romances e biografias em um mundo de palavras registradas em papéis amarelados, perfumados com mofo e vestidos com pó. Sentiu-se como eles: velhos, usados, cansados e abandonados.

Decidiu que não queria o mesmo destino. Embora tivesse aceitado que seria para sempre como eles, sem nenhum prestígio, não queria que estivesse à disposição da última pessoa que, sem outra opção, passasse por ela e optasse comprá-la. Continuaria amarelada, mal cheirosa e mal vestida, mas jamais ia querer estar à margem dos desastrados com a vida. Já bastava ela. Já bastava passar a noite em claro tentando encontrar os erros, tentando mudar os fatos, tentando viver sua amargura de vida. Tentando, tentando... Ela queria não ter que tentar. Se fosse para ser um livro antigo, que fosse como um passado por gerações com um propósito, e não como os abandonados em qualquer loja por aí.

Levantou-se, guardou os fones, seguiu seu caminho incerto e, depois de muito vento e pouca calmaria, voltou ao seu lugar comum, onde ser ela era natural. Lá ela não era criticada por parecer um livro velho e esquecido, com sentimentos rejeitados. Ela era, simplesmente, uma garota em busca de razão e respostas para seus anseios e falsas esperanças e que pudesse, um dia, parecer-se com um livro novo, profundo e de sucesso. Sentou-se em sua poltrona, curtiu sua amargura de vida, e começou uma história escrevendo um pouco do que já havia sido. Escreveria, cada dia que passasse, um pouco sobre viver suas verdades, suas mentiras, suas ansiedades e suas angústias nessa falsa felicidade. Quis mostrar ao mundo que belas palavras não necessariamente estão atreladas a rasos sorrisos, mas que elas podem ser espelho de uma vida recheada com muita imaginação, ousadia e solidão.


M.

You Might Also Like

15 comentários

  1. É teu esse texto? Você escreve muito bem menina, nossa, amei viu :)


    pequenamenina31.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Amei o texto Marcela, ficou muito bonito <3 Continua escrevendo assim e algum dia vou ler alguma coisa sua na livraria hein? haha, beijosss
    http://oblogdamandi.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Amei o texto *-*
    Mil beijus www.nossomosmoda.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. É meu sim, meninas!
    Muito obrigada!! Vou continuar escrevendo. Quem sabe, né Amanda? Hehe

    Bjoo<3

    ResponderExcluir
  5. Que belo texto, hein Marcela!
    Sabe, eu acho que livros usados tem lá o seu charme. Além disso, conheço muitas pessoas que preferem comprar livros usados do que novos por n motivos.


    Tecido Doce
    Sorteios

    ResponderExcluir
  6. M que texto mais lindo querida, sério! Gostei da forma como você escreveu ele

    Beijos
    http://heyealaysa.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  7. Antes de tudo, obrigado pela visita sua fofa,
    e esse texto em? Totalmente intimista, adoro textos assim, sinceros e cheios de desabafos, as vezes a gente passa tanto tempo da vida guardando coisas e sentimentos que a unica forma de joga-los pra fora é em palavras...
    você escreve mt bem,
    obrigado pelo carinho e volte sempre tá?
    beijos fofa!

    www.doce-vestido.com.br

    ResponderExcluir
  8. já disse que vc escreve mto bem, mas é inevitável não falar de novo. rs
    Parabens pelo texto.
    Tem post novo lá:
    http://cantinhodopoderfeminino.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  9. Lindo o teu texto =)

    Beijos da Fernanda,
    http://fernandamacenablog.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  10. Nossa que bonito!! Achei muito interessante à relação que tu fez com os livros... me fez refletir :3

    Adolecentro

    ResponderExcluir
  11. Parabéns flor pelo texto

    bjs
    tudoqueeuseiegosto.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  12. É um dos textos mais bonitos que eu já, me identifico muito, tô sem palavras!

    Beijos, INconvencional!

    ResponderExcluir
  13. Marcela querida fico admirada com os textos que escreve! Vc tem muito talento!! Parabéns!!

    http://muitossonhosadois.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  14. Amei o texto, muito bem escrito, beixos
    http://booksandflowers.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  15. VC ESCREVE SUPER BEM!!!
    PARABÉNS...
    adolescentemodamell.blogspot.com
    Segue me blog! Bjs

    ResponderExcluir

Espero que tenham gostado do Post! Retribuirei com muito carinho <3
Se tiverem sugestões fiquem à vontade!
Beijos!:*

Like us on Facebook

Twitter